A difícil missão de ser criativo

28 08 2007

Bruno Martins / Fábio Moura 

“No início da década de 90, era um jornalista do Estado de Minas, outro daItatiaia e eu na Globo. Primeiro chegava na Toca, conversava com osjogadores no estacionamento, depois íamos direto para a Vila Olímpica, centrode treinamento do Atlético na época, pedíamos para o treinador interromper otreino, porque estava com pressa. Após o CT do Galo, íamos ao do América.Apenas o Mauro Neto, da Itatiaia, estava fazendo a cobertura do Coelho.Então, quando uma outra emissora chegava, eles valorizavam, pois era poucodivulgado o clube”. Guilherme Mendes, jornalista, foi repórter e editor-chefe do “Globo Esporte” de Minas. Hoje diretor de comunicação do Cruzeiro Esporte Clube, explica que acobertura esportiva não interferia tanto na vida dos clubes. A Internet não atrapalhava; os impressos eram poucos e cadernoespecífico só no domingo; programa de esporte com reportagens apenas o “GloboEsporte”, com o primeiro bloco regional de no máximo cinco minutos; rádio de cobertura mesmo, era só a Itatiaia.Atualmente, a realidade é outra. São mais de cinco emissoras de TV, outras cinco de rádio, outras quatro de jornais impressos, fora a Internet com informações de hora em hora. Com esse crescimento da mídia esportiva, foinecessária uma reestruturação das assessorias dos clubes. As entrevistas setransformam em coletivas, o técnico não fala todos os dias e apenas três jogadores podem ser selecionados pelos jornalistas, como exemplo a assessoria do Cruzeiro. O resultado: as mesmas imagens, as mesmas frases e a maior dificuldade para os repórteres fotográficos e cinematográficos, evitar as propagandas dos patrocinadores, que ficam em um painel no fundo dos locais da entrevistas.Uma cobertura, para muitos, banal. Para quem trabalha, nem tanto. “É difícil. Eu tenho facilidade de escrever, mas o que complica é o que escrever, como se diferenciar das matérias dos outros impressos, da TV e da Internet”, explicaJorge Luiz, jornalista experiente do jornal O Tempo. Jota Júnior, outro jornalista de longa carreira, atualmente narrador do canal Sportv, afirma que o profissional tinha mais acesso aos jogadores e treinadores, “mas conteúdo é o mesmo”.Ele diz que não há muito que inventar nas matérias sobre futebol, é o cotidiano desse esporte. Ele acha que os repórteres são bastante criativos nos materiais, e discorda da cobertura ser monótona por empecilho das assessorias. “Mesmo sem as imposições dela, os enquadramentos das matérias seriam os mesmos”. Ele conclui que os jornalistas atuais são bastantes criativos e, na década de 80, por exemplo, não se via reportagens como assistimos e lemos, era muito mais padronizada.Maurício Noriega, também profissional do Sportv, concorda que antigamenteera mais fácil de trabalhar, mas discorda de Jota quando afirma que ascoberturas no passado eram mais criativas e inovadoras: “o relacionamentocom os atletas eram mais natural, menos forçado, com entrevista e respostasmais autênticas”. Ele não concorda com as justificativas das assessorias deque os jogadores e treinadores não gostam de falar, que antes era maissimples, o jogador que não queria falar dizia apenas “não”. O comentarista doSportv também conclui que as perguntas muitas vezes são mal elaboradas, oque influi para esta banalidade.Essa nova organização do clube pode ter influído o jornalista a ficar maisdesleixado, pois, ao chegar no centro de treinamento ou no estádio após ojogo, ele sabe que pelo menos um jogador vai ser selecionado e o treinadordeve falar, então já fica armazenando perguntas gerais na cabeça do repórter,como postura tática do time, o que achou do jogo, contusões, substituições e ogol, e o texto se repete com personagens diferentes. O jornalista deveprocurar novos argumentos e perguntas, buscar ângulos diferentes e “criaralternativas para se esquivar do óbvio”, afirma Daniel Seabra, jornalista da TVBand Minas e do tablóide “Aqui”, para quem essa igualdade de reportagenspode ser evitada pelos profissionais de imprensa do meio futebolístico. Guilherme Mendes tem opinião semelhante. Quando a assessoria do Cruzeirocriou um esquema de entrevista e horários, o técnico do time na época, LevirCulpi, foi o grande culpado, mas ninguém observou que era necessário umareestruturação das assessorias, houve um crescimento de todos os meios deinformação, os jogadores atrasavam para começar o treino ao atender antesos jornalistas e depois perdiam horas de descanso para uma nova entrevista, eanalisando alguns trabalhos de organização dos clubes brasileiros, osprocesso são os mesmos, tanto de equipes dos grandes centros, como deoutras de menores coberturas. Para o diretor de comunicação, o trabalho deretaguarda é muito importante. “Trabalho de pauta, texto, imagem, edição, éum conjunto que produz uma matéria, tudo deve ser adaptado de acordo como tempo”, conclui Mendes. João Vítor Xavier , repórter da Rádio Itatiaia, diz que a cobertura do futebol está mais massificada, virou um produto comum, consumido pelo público, e isto se deve por interferência dos próprios clubes: “estão cerceando a liberdade do jornalista, restringindo espaço, escolhendo o que cada jogador vai falar e isso me preocupa”, conclui o repórter. Na Europa o problema ainda é pior, segundo João Vítor. Ele conversou com um jogador que atua no futebol francês e lá o processo é um pouco mais complicado para os jornalistas. O clube grava as falas dos jogadores, faz as matérias e distribui para o resto das mídias. Não há o contato com a imprensa dentro do centro de treinamentos, no clube, nemnos estádios. São raras as entrevistas, apenas quando o assunto é de grandedestaque. De dia-a-dia mesmo, não existe. “O próprio clube está trabalhandopara a pasteurização do noticiário”, afirma João Vítor. Mário Marra, da RádioGlobo, também concorda que a cobertura está robotizada “e, atualmente, vaise destacar o profissional que procura fazer diferente. O repórter tem quequalificar, pois os clubes só dificultam o trabalho da imprensa esportiva”.Há um consenso: hoje é bem mais complicado trabalhar na coberturaesportiva. A Internet atrapalhou o crescimento dos meios também e,principalmente, o trabalho de organização das assessorias nos times, mas ojornalista ainda pode usar de diversos artifícios para escapar do comum. “Asassessorias restringem, mas não impede ninguém de trabalhar e desempenharuma boa reportagem”, diz Guilherme Mendes, que conhece os dois lados e tema mesma idéia de Jota Júnior: mesmo que não tivesse tantas regras, asmatérias teriam uma semelhança de um meio para o outro. O profissional podesim escapar e fazer reportagens diferentes, usar boas imagens, além debuscar novos ângulos através de perguntas e idéias mais trabalhadas.Jornalistas buscam novas alternativasCom a estruturação dos clubes através de regras para a imprensa, énecessário buscar alternativas. A Rádio Itatiaia criou um novo programa em2004, em um horário diferente, às 20h, apresentado por um jovem jornalista,João Vítor Xavier. O programa tenta fugir da mesmice. Normalmente, oapresentador convida o jogador, treinador e o diretor ao programa, e debateassuntos que fogem à cobertura normal. “Há uma demanda muito grande detorcedor para isso, há uma carência disso no mercado”, afirma Xavier. Como opróprio nome do programa já diz, “Bastidores”, trata mais de assuntospolêmicos, as opiniões dos jogadores na íntegra, negociações e investigação. É“um debate fora das quatro linhas”, diz João. Os assuntos contusões, escalações são deixados em segundo plano.Ramon Salgado também radicalizou. Com mais de 30 anos só de cobertura diária doCruzeiro, o jornalista trocou a formalidade pela descontração. O experiente repórter, que tem três Copas do Mundo em seu currículo, faz parte do humorístico “Galera Gol, Fanáticos Futebol Clube”, um programa diferente da Rádio Transamérica, que usa o humor com imitações de jogadores, treinadores, apresentadores e jornalistas. Ramon continua acompanhando o dia-a-dia do time e participa do programa com informaçõesreais, mas que se transformam em gozações. O programa também busca interatividade com o ouvinte, com participações no ar. “Concorremos com um programa tradicional em Minas Gerais, não há intervalos comerciais e estamos tendo um público satisfatório”, afirma Salgado, que sempre foi apaixonado pela profissão e acredita que o programa é uma solução para a cobertura tradicional. O ouvinte confere as mesmas notícias do seu time, com muita dose de humor”.Alternativa, foi esse o termo usado por Josemar Gimenez, diretor de redaçãodo Estado de Minas, para a reestruturação do caderno de Esportes do jornal.Preocupado com a queda do número de leitores, o EM lançou no dia 24 dejunho um novo caderno desta editoria. A estratégia é buscar novos leitorescom maior interatividade e fugir dos assuntos que foram destaques na TV,rádio e Internet do dia anterior. Segundo o colunista do jornal, Eduardo Reis, édifícil sustentar um caderno de Esportes todos os dias, quase nenhum jornaldo Brasil faz isso, então “a mudança, com cronistas-leitores, recursos gráficose com um novo visual, pode ser uma alternativa para o retorno do leitor a estaárea”. Eduardo conclui que a queda de leitores se deve também aos clubesmineiros: “o Cruzeiro desde 2003 não tem um bom time, o Atlético disputou aSérie B ano passado e o América nem a Série C disputa”.Os programas televisivos também buscam alternativas. A TV Globo Minas, atualmente, manda um comentarista para os centros de treinamento dos clubes mineiros. Ele acompanha o repórter e participa do programa “Globo Esporte”, com comentários da notícia. O “Alterosa Esporte” e o “Esporte Record Minas” usam um formato com comentaristas-torcedores, para se identificar com o telespectador.


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3 responses

21 04 2008
Renato Augusto Lage Silva

Quem vai levar o título no domingo?
Atlético Vai Ganhar No Domingo,
27/04/2008 as 16h no mineirão

22 04 2008
noangulo

Olha Renato, concordo com vc, o galo vence pelo menos esta primeira partida, o time está mais confiante que a raposa…

29 01 2011
Renato Lage

o jogadores do atlético todos os dia antes o jogo

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